quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Deitado em berço esplêndido


O americano Warren Buffett, novo homem mais rico do mundo, investe em reais
MILTON GAMEZ Isto É Dinheiro de 12-03-2008

“MANTIVEMOS APENAS UMA POSIÇÃO DE CÂMBIO EM 2007. E FOI – PRENDA O FÔLEGO – O REAL ”
Buffett, em carta aos acionistas.

Quer ser o homem mais rico do mundo? Comece cedo, trabalhe duro, invista em ações. Com esta receita, o americano Warren Buffett, 77 anos, conseguiu chegar ao topo do ranking dos bilionários. O megainvestidor desbancou o amigo Bill Gates, dono da Microsoft, que reinou por 13 anos na lista das maiores fortunas do planeta e agora ocupa o terceiro lugar, atrás do mexicano Carlos Slim. Segundo cálculos da revista Forbes, Buffett detinha uma riqueza pessoal equivalente a US$ 62 bilhões (R$ 104 bilhões), em 11 de fevereiro deste ano. Ficou US$ 2 bilhões acima de Slim e US$ 4 bilhões à frente de Gates. Em um ano, seu tesouro na bolsa de valores cresceu US$ 10 bilhões, cifra igual a toda a fortuna do empresário Antônio Ermírio de Moraes, o mais rico do Brasil. E, sinal dos tempos, o País colaborou com a ascensão financeira de Buffett.

O oráculo de Omaha, como é conhecido, ganhou uma bolada apostando no real.

Ninguém imaginaria que o real, o mesmo dinheiro que você tem no bolso, pudesse um dia entrar na carteira de Buffett. Nem ele. Ao divulgar os resultados anuais de sua empresa, a Berkshire Hathaway, no dia 1º de março, ele fez graça com a estratégia. “Mantivemos apenas uma posição de câmbio em 2007. E foi – prenda o fôlego – o real brasileiro”, escreveu aos acionistas. Dono de um humor espetacular, explicou de forma didática por que deitou no berço esplêndido do câmbio tupiniquim pela primeira vez na vida. “Há pouco tempo, trocar dólares por reais seria impensável. Afinal, no século passado, cinco versões da moeda brasileira viraram confete.” Muitos brasileiros ricos enviaram suas fortunas para os Estados Unidos, em busca de proteção. E quem fez isso perdeu, nos últimos cinco anos, metade do valor investido na moeda americana. “Desde 2002, em todos os anos o real subiu e o dólar caiu.”

Ele tem razão: a cotação das verdinhas, de R$ 3,53 no final de 2002, chegou a R$ 1,77 em dezembro passado e já está na casa de R$ 1,67. Não fosse o Banco Central, a queda seria maior ainda. “Na maior parte desse período, o governo brasileiro segurou a cotação do real e deu suporte à nossa moeda, comprando dólares no mercado”, ressaltou Buffett. Seus lucros com o real foram de US$ 100 milhões em 2007. Pode ser um pequeno passo para um gigante como ele, maior acionista de uma corporação que lucrou US$ 13 bilhões no período. Mas é um salto para os brasileiros.

Buffett é talvez o mais conservador dos grandes investidores. Ao contrário de George Soros (fortuna de US$ 9 bilhões), algoz da libra esterlina e mestre em detectar desequilíbrios nos mercados e apostar grandes somas contra as moedas, Buffett aposta a favor. E escolheu o real como porto seguro cambial de pelo menos uma parte dos seus investimentos. Como ele não gosta de arriscar um único dólar com especulações, nunca troca o certo pelo incerto e rejeita investimentos exóticos ou que simplesmente não entenda, o fato de investir qualquer soma em reais tem grande significado. E que transcende a queda da moeda americana, que, para Buffett, deve continuar enquanto os americanos gastarem US$ 2 bilhões por dia a mais em produtos importados do que nos fabricados nos Estados Unidos. “Não é que Buffett confia no real e desconfia do dólar. Ele confia nos fundamentos da economia brasileira, na força das nossas empresas”, diz o economista André Segadilha, chefe de análise da Corretora Prosper.
Pode ser. O Brasil, notório caloteiro da dívida externa no século XX, ainda não chegou ao tão almejado grau de investimento, a classificação das agências de risco que atesta quando um país é bom pagador. Mas a aposta de Buffett indica que esse selo está perto, apesar dos obstáculos globais criados pela crise financeira e pela possível recessão americana. O País, pela primeira vez na história, tem reservas de US$ 192 bilhões e passou de devedor a credor líquido internacional. Cresce acima de 5% ao ano, com forte demanda interna, tem inflação sob controle e uma moeda fortalecida como nunca se viu em tempos de câmbio flutuante. Merece, portanto, a confiança do bilionário, que sempre viu na América do Sul um destino certo para se perder dinheiro.

Não está claro como Buffett realizou sua aposta no real. Há muitas opções, desde a compra de títulos privados e públicos denominados em reais até a troca de riscos cambiais (swaps) nas bolsas de derivativos. “A grande maioria dos investidores prefere montar posições com derivativos”, diz o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, sócio da Gávea Investimentos, que já trabalhou com Soros. Dependendo da maneira como os investimentos são feitos, os estrangeiros ganham mais se também surfam a onda dos juros reais mais altos do mundo, à frente da Turquia, da Austrália e do México. Quando investem em títulos brasileiros, que pagam juros muito mais elevados que os do Tesouro americano, os estrangeiros ganham um senhor diferencial.

Enquanto a taxa básica do Banco Central, a Selic, foi mantida a 11,25% ao ano na quarta-feira 5, o Fed, banco central americano, praticava 3%. Descontada a inflação prevista, o juro real no Brasil é de 6,73%. Nos EUA, é negativo. “Somos o País com a maior taxa do planeta”, reclama o presidente da Fiesp, Paulo Skaf. Os estrangeiros que investem no Brasil, ao contrário, só têm a agradecer a Henrique Meirelles, presidente do BC. Além dos ganhos com juros, ainda levam mais dólares para casa por conta da apreciação do real.

AS MÁXIMAS DE BUFFETT
Lições do mago das finanças, segundo o livro “O Tao de Warren Buffett”
"Regra nº 1: nunca perca dinheiro. Regra nº 2: nunca esqueça a regra nº 1"
"Fiz meu primeiro investimento aos 11 anos. Eu vinha desperdiçando minha vida até então"
"Invista como um católico se casa: para o resto da vida"
"Invista seu dinheiro numa empresa que até um idiota consiga administrar, porque um dia um idiota o fará"

Com a queda do dólar no mundo todo, muitos investidores globais estão diversificando suas aplicações cambiais. O suíço UBS, cuja área global de gestão de fortunas publicou na semana passada um amplo relatório sobre os desequilíbrios entre as moedas mundiais, recomenda a compra de reais. “Os prêmios são muito atrativos, a ponto de atrair investidores conservadores”, afirma Paulo Tenani, chefe de pesquisa do UBS Wealth Management para a América Latina. Segundo ele, o Brasil tem bons fundamentos para exibir o risco-país na casa dos 240 pontos, o que justificaria uma taxa Selic em torno de 9%. Ao insistir nos 11,25%, o BC aumenta ainda mais o apetite dos estrangeiros. E, naturalmente, enche de água a boca dos megainvestidores. “O Brasil é o último peru disponível em dia de Ação de Graças”, provoca o ex-ministro da Fazenda Delfim Netto.

Buffett é um homem religioso e não busca milagres financeiros, mas sim sólidos resultados de aplicações em ativos com boas perspectivas de crescimento a longo prazo. Ele até compra ações de empresas estrangeiras, como japonesas e européias, mas concentra o grosso de seus investimentos nos Estados Unidos. Com ativos de US$ 273 bilhões, a Berkshire Hathaway atua nas áreas de seguros, resseguros, varejo, indústria e finanças. Controla 76 companhias e é grande acionista de ícones do capitalismo americano, como Coca-Cola, American Express, Johnson & Johnson e Kraft Foods, todas com grande presença no Brasil. Quem investiu US$ 100 na Berkshire em 1965 teria hoje US$ 400.963. Em média, o mesmo investimento na bolsa valeria US$ 6.940. Buffett só compra ações de empresas grandes, adora monopolistas e geradores de caixa. Se algum dia adquirir ações de companhias brasileiras, será o sinal definitivo de que o País mudou realmente de patamar.

O novo homem mais rico do planeta não tem pressa. Sua estréia na bolsa foi aos 11 anos de idade. Comprou três ações da Cities Services por US$ 38 cada uma. Quando chegaram a US$ 40, vendeu. Aí aprendeu sua primeira lição – longo prazo é tudo nesse mercado: os papéis chegariam depois a US$ 200. Avesso a badalações e comedido em seus gastos pessoais, Buffett retira um salário anual de apenas US$ 100 mil e ainda mora numa casa que comprou em 1958, por US$ 31,5 mil. Trabalham com ele em Omaha somente 18 pessoas, entre elas o sócio, Charlie Munger, 84 anos, vice-presidente. O bilionário garante que 99% de sua fortuna está em ações da Berkshire Hathaway. E o mais incrível é que irá doar a maior parte de seus US$ 62 bilhões para fundações filantrópicas, principalmente a de Bill e Melinda Gates. Se a saúde permitir, irá trabalhar até o fim. Ele já pensa em sua sucessão, mas descarta morrer tão cedo. “Quero garantir a vocês que nunca me senti melhor. Eu amo tocar a Berkshire e, se gozar a vida promove longevidade, o recorde de Matusalém está ameaçado”, diz, provocando os acionistas.

Um comentário:

  1. bom blog,mais precisa ser mais dinamico com as atualizações,como no bolsa hoje.
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